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Castelo

 

A localização de Miranda do Corvo apresentava-se favorável à localização de uma fortificação. Daqui era possível vigiar e defender duas importantes vias de comunicação: a antiga via romana que passava por Corvo e ligava Sellium (Tomar) a Aeminium (Coimbra) e a via que ligava o interior da Península ao Ocidente, a via Colimbriana. O topónimo Miranda, do latim mirandus, com o significado de atalaia, estará assim diretamente associado ao perfil vigilante do castelo que se implantava no alto do morro do atual Alto do Calvário. 

Um documento redigido no Mosteiro de Lorvão, datado de 998, atesta a existência de uma estrutura militar em Miranda do Corvo, ao fazer referência a uma torre. A importância do aglomerado é ainda atestada pelo facto da condessa D. Teresa e o bispo D. Gonçalo terem autorizado o presbítero Árias a fundar uma igreja que, em 1138 seria doada à Sé de Coimbra. Desse templo nada terá subsistido. 

Ainda sob o governo de D. Teresa, no ano de 1116, a região foi severamente atacada durante uma expedição almorávida, apenas travada às portas de Coimbra, acabando o castelo de Miranda por ser destruído. Assim terá permanecido durante vários anos e julga-se que a sua reconstrução só tenha ocorrido entre 1134 e 1136. Certo é que em 1136 D. Afonso Henriques outorga Carta de Foral a Miranda do Corvo.  

Pensa-se hoje que o castelo de Miranda do Corvo seria suficientemente espaçoso para albergar uma pequena guarnição militar, assentando a maioria do seu potencial defensivo nos declives rochosos do terreno onde se erguia, não necessitando, por isso mesmo, de um número muito elevado de torres encostadas à muralha. O castelo possuía uma cisterna, localizada nas proximidades da única torre sobrevivente, assegurando as reservas de água, vitais em caso de cerco. A cisterna é um dos elementos que chegou aos dias de hoje, embora bastante danificada, sendo composta por um único compartimento de planta retangular, sem cobertura, conseguindo-se ainda observar os arranques da abóbada que a encerrava.  

Ao longo dos séculos o Castelo perdeu a sua importância e utilidade. Estas estruturas foram alterando seu uso, sendo muitas vezes abandonadas, à medida que o reino ia avançando a sua conquista para sul, estabelecendo novas fronteiras. Tomamos conhecimento do seu estado de ruína em 1700, numa carta de D. Pedro II. A antiga torre angular da muralha poderá ter sido convertida em torre sineira da Igreja por ocasião da construção do atual Templo dedicado ao Salvador.  

O abandono e ruína do castelo determinam a derrocada de praticamente toda a estrutura… O Livro das Posturas da Câmara Municipal de Miranda do Corvo refere a existência de um aluimento do que restava do castelo, em maio de 1799. Deste ano, data ainda a publicação de posturas sobre o roubo das pedras através das quais o município proíbe a população de retirar pedras das ruínas do castelo. 

A partir de 1803, os silhares de pedra são encaminhados para as obras da Ponte do Corvo, sob a ribeira do Alhêda. 

Uma intervenção, anos 30 do séc. XX, centrada na Torre Sineira, conferiu a esta a imagem de uma torre de pedras fingidas e ameias. 

Em 2011 nasceu a Rede de Castelos e Muralhas do Mondego e através deste projeto o Município de Miranda do Corvo elaborou um plano de requalificação do Alto do Calvário, zona envolvente, Torre, Cisterna e Altares da Igreja Matriz. O conjunto de intervenções proporcionará a criação de um núcleo museológico na torre e cisterna e de um esplêndido miradouro sobre a Vila.  

Dada a pouca informação existente sobre o castelo e a sensibilidade arqueológica do local, realizaram-se trabalhos de escavação arqueológica que contribuíram com novos dados para o estudo do castelo quase desaparecido.